Homem, Bicho, Fera.

Progress

 

Somos todos selvagens, e gostamos disso. Orgulhamo-nos de sermos os únicos seres deste planeta com capacidade de raciocínio e abstração – julgamo-nos até superiores às outras espécies por isso –, mas, nos confins de nossas mentes, o que nos dá prazer de verdade são os momentos de irracionalidade.

Quando podemos extravasar nossa ferocidade e nossos desejos mais profundos, os níveis de endorfina chegam ao máximo. Esquecemos que nossa espécie alcançou este patamar atual de inteligência há duzentos mil anos, mas que só nos últimos cinquenta mil que começamos a agir com menos bestialidade e mais com o que consideramos humanidade.

Há poucos séculos nos divertíamos vendo gladiadores se defrontando em combates mortais; há alguns minutos algum grupo de pessoas espancou um bandido até a morte antes da chegada da polícia, e achou isso justo. Não somos tão “evoluídos” quanto teimamos em acreditar.

Podemos ter a capacidade de pensar, escrever, interpretar e buscar explicações para o que nos cerca, mas nem por isso deixamos de ser animais. O que nos difere das outras espécies é que temos consciência do que fazemos e, portanto, somos responsáveis pelas implicações de nossas escolhas. Isso nos leva a decidir por fazer ou não o que desejamos, se vale ou não o risco satisfazer essa vontade.

Ademais, essa consciência e o fato de sermos forçados a não utilizar nosso lado mais selvagem – o qual sempre fez parte de nós nesses milhares de anos desde nossa gênese – tem nos tornado frustrados, insatisfeitos e até infelizes. Isso pode justificar o porquê de tantas explosões de violência por motivos fúteis, os assassinatos até com requintes de crueldade originados de uma simples briga de trânsito, os confrontos que lembram cenas de guerra da idade média – embora sem armaduras e espadas – entre “torcedores” de times de futebol.

Não vivemos mais em matas e florestas, nem precisamos arriscar nossas vidas caçando e matando nossos alimentos, mas criamos um ambiente tão ou mais hostil que esse, cercado por rios de asfalto e árvores de concreto e alvenaria. Poucas vezes temos oportunidade de fazer uso da nossa selvageria, e isso fica escondido em nosso subconsciente como uma mina aguardando ser detonada ao mais simples toque.

Esse lado fera que todos temos está além de qualquer julgamento de bem ou mal, de certo ou errado. Ele existe, é um fato, mas deve ser plenamente controlado. E o primeiro passo para esse controle é admitirmos que nem sempre temos domínio completo sobre nossas ações e tentarmos perceber quando esse lado irracional se manifesta, para então usarmos nosso poder de reflexão, nossa humanidade, para refreá-lo. Nossa mente pensante deve sempre se sobrepor ao instinto; somos todos selvagens, mas, acima de tudo, somos humanos.

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